No vasto campo das práticas psicoterapêuticas, a obra “O Poder do Agora”, de Eckhart Tolle, emerge como um convite urgente para repensar a experiência humana diante do tempo, especialmente no que se refere ao passado e ao futuro. Como psicoterapeuta sistêmica familiar, meu objetivo neste artigo é explorar os elementos cognitivos que compõem a proposta de Tolle, destacando como a prática da presença pode transformar a relação do indivíduo com seu sistema familiar, suas memórias e sua trajetória.
O Agora como Ferramenta de Transformação Pessoal
Eckhart Tolle destaca o “agora” como o único tempo real, essa perspectiva contribui para enfraquecer padrões de percepções disfuncionais. A experiência do momento presente reduz as associações com crenças limitantes e memórias dolorosas, que muitas vezes perpetuam estados de sofrimento. A prática da presença, nesse contexto, pode ser entendida como uma técnica que facilita a percepção de si e do sistema psicoemocional de maneira desidentificada, promovendo uma experiência de liberdade em relação aos próprios sentimentos.
Como terapeuta, vejo no “agora” uma oportunidade para que o cliente observe sua própria narrativa de vida. Em vez de se perder em memórias de dores passadas ou de ansiedades futuras, ele encontra um espaço onde é possível reinterpretar as lembranças. Sob uma perspectiva de evoluir sua postura para algo muito mais amplo e funcional, assim como, para que se alcance a verdadeira prosperidade.
Esse processo de mudança oferece uma profunda oportunidade para REssignificar as narrativas pessoais e cultivar uma nova postura interna, dissolvendo as cadeias de associações automáticas que nos prendem a um passado que, em última análise, já não existe. Ao ancorar-se no poder do agora, cada pessoa acessa uma presença consciente que permite agir com responsabilidade e clareza, deixando para trás a necessidade de se identificar com queixas ou arrependimentos. Nesse estado de atenção plena, o futuro surge como um desdobramento natural do presente, livre das limitações de quem veio antes, e aberto a possibilidades autênticas e prósperas.
A Consciência da Presença e o Sistema Familiar
No campo da sistêmica familiar, trabalhamos com as memórias transgeracionais, que influenciam o modo como nos conectamos com o mundo. A presença no agora também convida o indivíduo a observar as lealdades invisíveis que nos conectam aos nossos antepassados.
Quando a pessoa pratica o agora, ela aprende a ver seus sentimentos e pensamentos sem julgamento, reconhecendo a influência dos sistemas ancestrais, mas sem carregar, de forma reativa, suas dores e traumas. A leitura de Tolle sob o olhar sistêmico, então, revela-se uma ferramenta para observar os padrões de pensamento herdados, memoráveis para serem absorvidos no presente o que serve para este contexto e com a clareza de que eles podem ser honrados, mas não precisam ser repetidos.
A partir da presença no agora, torna-se possível ver com nitidez o que é autenticamente nosso e o que faz parte do sistema familiar herdado, padrões repetitivos que, muitas vezes, perpetuamos sem plena consciência. Nesse estado de presença, surge a oportunidade de deixar o passado no lugar que lhe pertence e, assim, seguir adiante no fluxo natural da vida, que sempre aponta para a criação e construção do futuro.
O agora nos permite honrar e respeitar o passado que nos trouxe até aqui, reconhecendo sua grandeza e seu papel em nossa jornada. Ao mesmo tempo, ele nos libera para explorar novos caminhos e expressar nossa autenticidade sem as amarras que nos prendem ao que já passou. No presente encontramos a liberdade para sermos quem realmente almejamos ser, sem a carga das histórias de ontem.
A Desidentificação com o passado e a Paz Interior
Tolle ensina que grande parte do sofrimento humano provém da identificação com o ego, que é, em termos cognitivos, o apego a padrões específicos de pensamento e crença sobre si mesmo e sobre o mundo. Ao cultivar a prática da desidentificação, o cliente pode começar a se ver como um ser capaz de experimentar a vida sem os filtros de sua própria história pessoal passada e das expectativas familiares. Isso o libera para encontrar um estado de paz interior, onde ele não é mais refém de seus pensamentos e memórias dolorosas.
Essa prática de desidentificação encontra respaldo na terapia sistêmica transgeracional, permitindo que o cliente se veja como parte de um sistema maior, ocupando, ao mesmo tempo, uma posição única em seu clã. Como psicoterapeuta, te incentivo a refletir com a pergunta: “Até que ponto estou vivendo minha vida com base no meu passado e no passado dos meus ancestrais?”; “ Estou ocupando a minha posição na ordem do meu sistema familiar, honrando e respeitando quem veio antes?”. Ao explorar essa resposta, você ganha uma perspectiva ampliada de sua própria história, uma visão que inclui e honra a trajetória de seus antepassados, mas que também abre espaço para uma nova postura. Assim, ele se permite libertar de padrões descontextualizados que já não servem ao presente, integrando o passado de forma consciente, mas não determinante.
O poder do agora, como abordado por Eckhart Tolle, não é apenas uma filosofia espiritual, mas uma técnica de transformação psicológica profunda que, se olhada por um viés sistêmico, revela-se uma abordagem terapêutica para reelaborar memórias e padrões que estão contextualizados no passado de nossos ancestrais e não nos servem para a atualidade. Ao mergulhar na prática da presença, a pessoa tem a oportunidade de reavaliar seus sentimentos, seus vínculos familiares e sua própria narrativa de vida para encontrar seu novo caminho a seguir, sempre respeitando e honrando a história e os comportamentos de quem veio antes e possibilitou que a vida seguisse adiante. Entretanto, você pode acessar seu potencial de maneira extraordinária, transpondo o efeito que seu passado causa em você e presenciar profunda transformação que vai além da compreensão do aprendizado para uma mudança de postura perante a vida.
Como psicoterapeuta sistêmica familiar, vejo nesse caminho uma possibilidade de REvitalizar para quem busca se libertar das dores que carrega, seja de suas próprias experiências, seja das histórias que herdou. Encorajo cada um a explorar o agora como uma prática de REconciliação em que a paz e a aceitação se tornam possibilidades reais e transformadoras.
A maioria das pessoas desvia sua atenção para o passado, enredando-se em antigas memórias e focando nas dificuldades que já vivenciaram. Presas ao peso dessas experiências, e muitas vezes às histórias não resolvidas de seus ancestrais, acabam encontrando obstáculos para seu próprio crescimento no presente. Esse apego cria uma barreira para viver de forma plena e responsável, com empatia e uma perspectiva expansiva para o futuro. Para se abrir ao verdadeiro crescimento é essencial redirecionar a percepção: o passado deve ser sentido e compreendido em seu próprio contexto, como parte de uma trajetória que contribuiu para o presente, mas que não precisa definir ou limitar as escolhas e experiências do agora.
A genuína prosperidade surge quando nos tornamos autores responsáveis de nossas ações no presente, projetando intencionalmente um futuro diferente e alinhado com nosso propósito. Para isso, é essencial abandonar exigências e queixas sobre um passado que, sendo imutável, já não pode ser alterado. Ao dessensibilizar as emoções e sombras do ontem, permitimos que permaneça apenas o que é útil para o presente, preservando as sabedorias ancestrais que são verdadeiramente atemporais. Assim, abrimos espaço para acolher as luminosas possibilidades do agora, que se revelam em coerência com o momento presente, permitindo-nos viver de forma consciente e alinhada com o que realmente importa.