Constelação Inteligência Sistêmica Luto

Minha Experiência no Uso da Constelação para Lidar com o Luto

Cada família opera como um sistema interconectado, cada membro tem um lugar específico, ela segue uma ordem natural para que a relação de todos os indivíduos que pertencem a este clã se mantenham vinculados num amor saudável, sem desordem relacional, e para que a convivência individual e coletiva seja saudável. Quase que uma utopia, pois todos nós, na fase adulta, nos deparamos com variados problemas, vários sintomas de saúde mental, e sequer dimensionamos o quanto a raíz dessas questões está ligada às nossas relações primárias, nosso sistema de origem, que são nossos pais, avós, irmãos e companhia limitada.

Aprendemos modelos de relacionamentos singulares de cada família e, inconscientemente, em nossa infância configuramos todos eles como verdades absolutas. Seguimos a vida adulta com essas feridas, até que algo de “nefasto” ou trágico aconteça para que consigamos ter olhos mais apurados, e assim buscarmos respostas mais assertivas para as nossas relações disfuncionais. Curar nossas cicatrizes emocionais demanda a busca por autoconhecimento, além de reconhecer a parte que nos cabe de responsabilidade nas relações. Com coragem, é claro! 

Comigo não foi diferente, até mesmo porque sou um ser humano normal, como todos os outros. Sofri um acidente e tive múltiplas perdas, pessoas que compunham meu cotidiano, faziam parte absoluta do meu dia a dia, eram a minha base, como eu mesma dizia: eram o meu tudo, que se perdeu num piscar de olhos, numa colisão frontal com um caminhão. Até que eu pudesse vivenciar uma experiência de luto altamente complicada, eu nunca tinha parado para pensar como estava a qualidade das minhas relações, nem mesmo a minha relação comigo mesma.

No decorrer do meu processo de luto, eu tive meu primeiro encontro com a constelação familiar. Foi algo que atualmente eu percebo como uma chance de vida em meio ao caos que eu me encontrava. Na prática eu estava com três crianças pequenas (de cinco anos de idade, meus trigêmeos), sem nenhum suporte financeiro, porque o único provedor da nossa família acabara de morrer em um acidente, ou seja, mais uma morte abrupta. Meus pais, que poderiam me apoiar, já estavam mortos, e num estado emocional completamente fragilizado em que a vida – ou a morte – me levava, eu ia. Para coroar a situação com a cereja do bolo, eu estava há quase dez anos fora do mercado de trabalho devido a minha situação emocional. Resuminho da ópera, eu sobrevivia inerte no medo e na tristeza profunda.

Apareceu, então, uma oportunidade de um workshop de constelação familiar em Santos, São Paulo. O meu desespero era tamanho que depositei todas as minhas fichas naquele fim de semana. E foi incrível. Ali pude sentir, ao contrário do que se pensa, não pude aprender nada até então, mas pude sentir a força que eu tinha e poderia usar ao meu favor para tratar todas as minhas relações, inclusive a minha relação com a morte, que estava bem comprometida de raiva.

Meu coração bateu com dor nas minhas vivências de cura e evolução da consciência, também não existem milagres para tamanha desordem que eu vivia, mas existiam os pincéis de luz que a terapia sistêmica me proporcionou e me faz crescer espiritualmente até os dias de hoje. A inteligência sistêmica trata as relações de modo profundo e filosófico, pois percebidas as nossas posturas mediante os relacionamentos primários, nos preenchemos de um amor que realmente faz sentido, e tudo começa a se organizar na prática.  

As nossas percepções ficam expandidas na claridade de um amor que realmente vê, agradecimentos, reconciliações, e muitos sentimentos passam a serem incluídos e ressignificados. É uma jornada breve até que se possa ver os efeitos em nossas vidas. Do dia em que comecei, como contei acima, se passaram seis anos, foram recheados de workshops, muita literatura, imersões terapêuticas, terapias individuais, grupais, pós graduação, treinamentos, e muita, muita barriga no fogão e no tanque em treinar a desenvoltura da minha alma. As posições fetais são inevitáveis, reverberações físicas também aconteceram, mas eu faria tudo novamente dez mil vezes. São tantas as descobertas de liberdade, que não existe dinheiro que pague tamanha simplicidade de viver em paz nesta passagem por aqui. Principalmente em viver em paz com os mortos, podendo honrá-los enquanto ainda estamos vivos.

Tive que enfrentar a morte de variadas maneiras, até me encontrar de frente com ela, e foi através de um exercício sistêmico que pude ter a oportunidade de perceber que ela não era tão má como eu a enxergava. Aprendemos tudo superficialmente, e tudo muito judicioso, o que nos torna seres humanos pouco assertivos e limitados com a nossa própria vida. Ter a possibilidade de descortinar algo que nos impede de viver em harmonia com o belo e com aquilo que faz parte da vida terrena, quer queiramos ou não, é extremamente salutar para um encontro com o nosso eu superior. A terapia sistêmica, juntamente com a terapia do luto, nos direciona para esta experiência, respeitando a singularidade e o alcance de cada ser.

Na crise do não saber como agir diante de uma situação nova e desafiadora, a constelação familiar e a terapia do luto nos guiam para enfrentar e experimentar a dor e o sofrimento emocional causados pela perda de modo adaptativo. Construir no agora, um mundo sem a presença física do ente querido, assumir novos papéis e desenvolver novas rotinas, encontrar uma maneira de manter uma conexão emocional saudável com o falecido enquanto se avança na própria vida, tudo vai se possibilitando de acordo com a vivência de um luto acompanhado e direcionado de forma responsável e acolhedora.

A constelação familiar oferece uma plataforma para explorar conflitos e tensões não resolvidas dentro da família. No contexto do luto, isso pode incluir sentimentos de culpa ou ressentimento em relação ao falecido ou outros membros da família, abrindo possibilidade a reconciliação, permitindo que os enlutados encontrem paz e aceitação. A terapia sistêmica pode fortalecer os laços familiares ao promover uma compreensão mais profunda das dinâmicas familiares e das motivações dos membros. Isso é especialmente importante no  luto, onde o apoio familiar é crucial e pode ajudar os membros da família a se apoiarem mutuamente, criando um ambiente de cura e suporte coletivo. 

A abordagem sistêmica familiar permite que os enlutados vejam suas situações de novas perspectivas, muitas vezes revelando dinâmicas e influências que não eram aparentes anteriormente. Esta nova percepção pode ser transformadora, ajudando os indivíduos a recontextualizar sua dor e encontrar novos caminhos para a cura.

Sentir as representações dos membros da família e os movimentos naturais da constelação pode trazer um profundo senso de aceitação, que é essencial para a adaptação e a continuação da vida após a perda. Ajuda os enlutados a aceitar a realidade da perda, muito importante para a elaboração do luto. 

Muitas vezes, o luto pode trazer à tona padrões emocionais disfuncionais que foram transmitidos através das gerações. A constelação familiar ajuda a identificar e liberar esses padrões, permitindo que os indivíduos rompam ciclos de sofrimento e estabeleçam novas formas de lidar com a perda. Isso inclui a resolução de sentimentos de culpa, raiva, e tristeza que podem estar enraizados em eventos familiares passados.

Lidar com o luto é uma das experiências mais desafiadoras da vida. Cada perda traz consigo uma série de sentimentos e mudanças profundas que podem ser difíceis de enfrentar estando só. A inteligência sistêmica oferece uma abordagem terapêutica poderosa e eficaz para ajudar na jornada de cura e reconciliação com a perda.

A vida, em sua dança eterna entre o belo e o devastador, revela-se como um mosaico de experiências que nos desafiam e nos elevam. No luto, encontramos a profundidade da existência, onde a dor se entrelaça com a beleza das memórias, e o sofrimento torna-se um portal para o autoconhecimento. É nesse espaço de perda que descobrimos a grandiosidade da alma humana, capaz de se reconstruir e florescer apesar das adversidades. A constelação familiar, com sua sabedoria ancestral, nos guia através do labirinto das emoções, iluminando os caminhos ocultos do coração. Assim, aprendemos que a vida, em toda sua complexidade, é uma jornada de constante evolução, onde cada cicatriz se torna um símbolo de renascimento e cada lágrima, um reflexo da nossa capacidade infinita de amar e de recomeçar.

Se você está enfrentando o luto e busca uma forma de encontrar alívio e compreensão, considere a constelação familiar como uma opção terapêutica. Ela pode proporcionar insights valiosos e apoio emocional, permitindo que você encontre um caminho para a cura e a renovação.

Para agendar uma sessão de terapia online e explorar como a constelação familiar pode te ajudar em seu processo de luto, entre em contato pelo WhatsApp clicando aqui. Estou aqui para oferecer o suporte e a orientação que você precisa nesta jornada.

Renata Campos 

Terapeuta Especialista em Perdas e Luto 

Psicoterapeuta e Consteladora Familiar

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