A Constelação Familiar é uma abordagem terapêutica inovadora que busca revelar as dinâmicas ocultas dentro das famílias e sistemas sociais. No meu entendimento, o principal efeito da constelação familiar é emergir, na compreensão do cliente, o que ficou sem explicação em sua própria história de vida no contexto de várias gerações, para que tudo isso possa ser vivenciado e sentido pela pessoa, de modo esclarecedor e ressignificando a dor.
Bert Hellinger, o “pai” da constelação familiar, identificou que muitas das dificuldades emocionais, relacionais e até mesmo físicas que enfrentamos podem ter raízes profundas em eventos e padrões familiares inconscientes. Tudo através de observações e práticas ao longo de décadas de estudo e trabalho.
Tal abordagem psicoterapêutica permite que os participantes vejam, sintam e compreendam essas dinâmicas através de representações espaciais e interações entre representantes que encenam membros da família ou elementos do sistema. Essas representações trazem à luz padrões repetitivos, lealdades invisíveis e emaranhados emocionais que influenciam nossas vidas.
A importância do tema na prática terapêutica é imensa. A constelação familiar oferece uma ferramenta poderosa para acessar níveis profundos do inconsciente coletivo e pessoal dos clientes. Ao trabalhar com essas dinâmicas ocultas, posso ajudar meus clientes a liberar traumas, resolver conflitos e restaurar a harmonia nos sistemas familiares. Além disso, a constelação familiar promove uma compreensão mais ampla das forças que moldam nossas vidas, permitindo um caminho para a cura e o crescimento pessoal.
Na prática terapêutica, essa abordagem não só beneficia o indivíduo, mas também pode ter um impacto positivo em gerações futuras ao interromper ciclos de sofrimento e promover uma nova consciência e equilíbrio dentro da família.
Para que os sistemas humanos possam se desenvolver para o mais, crescer e evoluir enquanto partes de um todo, precisamos encerrar os efeitos traumáticos do passado, abrindo-nos para o novo e para o futuro. É necessário ver o que ficou ultrapassado e descontextualizado mas ainda promove dor e sofrimento na atualidade.
Os processos de representações são de um saber oculto e inconsciente, e desdobram o que é interno, trazendo-o para o externo através do que é puramente sentido e percebido pelos sentidos do corpo. O modelo primordial da constelação familiar é o teatro em métodos diferenciados como a dramatização e o psicodrama. Isso se faz através do acesso ao campo invisível MORFOGENÉTICO para os processos anímicos de vinculação, e dentro das possibilidades, a liberação e o esclarecimento amplo de uma visão sem julgamentos acontece.
O êxito do trabalho depende basicamente da capacidade dos representantes e do mediador de perceber, de forma neutra, as informações que emergem no campo morfogenético por meio de gestos e movimentos de relacionamentos pessoais e transpessoais. Os representantes fazem isso pelo cliente de maneira tão precisa que por vezes chega a ser desconcertante.
Naturalmente, é importante conhecer histórias reais para tentar compreender a eficácia do trabalho que venho realizando já há algum tempo. Assim, trago o caso de uma cliente em razão da complexidade da realidade na superação de traumas familiares.
Como psicoterapeuta e consteladora familiar, tive a oportunidade de trabalhar com uma cliente chamada Maria (nome fictício para manter a privacidade da cliente) que vinha sofrendo de insônia severa há vários meses. Maria, uma mulher de 35 anos, buscou minha ajuda após tentar diversos tratamentos médicos e alternativos sem sucesso.
Durante nossas primeiras sessões, Maria descreveu uma sensação constante de ansiedade e uma dificuldade em “desligar” a mente, especialmente à noite, em um horário específico. Decidimos então realizar uma constelação familiar para explorar as possíveis dinâmicas ocultas que poderiam estar contribuindo para a insônia dela.
A constelação trouxe à luz que Maria, inconscientemente, estava carregando a dor e o sofrimento de sua mãe que estava no mesmo ambiente, porém em outro cômodo da casa, onde seu pai havia se suicidado há muitos anos com um tiro no ouvido. Havia em Maria um profundo sentimento de lealdade com a mãe, e essa lealdade se manifestava na forma de insônia e ansiedade, como se ela estivesse tentando “vigiar” e proteger seu papai mesmo enquanto dormia.
Ao reconhecer e honrar essas dinâmicas, Maria foi capaz de liberar e se libertar desse fardo emocional. Trabalhamos juntas para criar um ritual de despedida, onde ela simbolicamente devolveu essas emoções e responsabilidades para com os pais, reconhecendo que cada um deles tinha sua própria força e capacidade de lidar com as próprias experiências.
Após a constelação Maria relatou uma melhora significativa em seu sono. Ela começou a dormir melhor, sentindo-se mais tranquila e em paz consigo mesma. Além disso, Maria relatou uma sensação renovada de conexão com seu pai e sua mãe, agora de uma forma mais leve e amorosa.
Esse caso exemplifica como a inteligência sistêmica pode ser poderosa na resolução de problemas aparentemente pessoais, como a insônia, ao revelar e tratar as dinâmicas ocultas e transgeracionais que influenciam em nossa saúde e bem-estar. Através da inteligência sistêmica por trás da constelação familiar, Maria conseguiu encontrar alívio para a insônia, trazendo cura não só para si mesma, mas também para o sistema familiar.
Como um segundo exemplo eu trago outro cliente, o João (também de nome fictício para preservar a identidade do ser em suas questões pessoais e familiares). Aqui tratei da REconciliação e REdefinição de papéis. Inicialmente João relata a queixa primária de processo de divórcio a ser tratado em terapia.
Durante minha prática como psicoterapeuta e consteladora familiar, recebi João, um homem de 42 anos, que estava passando por um divórcio difícil e doloroso. João procurou terapia porque sentia-se extremamente frustrado, triste e culpado pelo término de seu casamento de 15 anos.
Nas primeiras sessões, João relatou que ele e sua esposa, Ana, estavam constantemente em conflito, e que ele não conseguia entender por que seus esforços para salvar o casamento eram sempre em vão. Ele também mencionou que vinha de uma família na qual o divórcio era raro, e isso o fazia sentir ainda mais pressão para manter a união.
Decidimos então realizar uma sessão de constelação familiar para explorar as dinâmicas ocultas que poderiam estar influenciando essa situação. Durante a constelação, utilizamos representantes para João, Ana, e outros membros significativos de suas famílias de origem.
Foi revelado que havia uma forte lealdade sistêmica de João para com seu pai, que tinha permanecido em um casamento infeliz por toda a vida, sacrificando sua própria felicidade pelo bem da família. João, inconscientemente, estava repetindo esse padrão, acreditando que deveria suportar o sofrimento para manter o casamento, mesmo que isso significasse negar suas próprias necessidades e sentimentos.
Além disso, a constelação trouxe à luz que Ana estava representando a figura da mãe de João, com quem ele tinha uma relação não resolvida bastante complexa. João estava projetando suas expectativas e frustrações com a mãe em sua esposa Ana, criando um ciclo de conflito e desentendimento.
Ao reconhecer essas dinâmicas, João foi capaz de ver o impacto dos padrões familiares em seu relacionamento atual. Trabalhamos juntos para que ele pudesse honrar a história de seus pais, mas também se libertar da necessidade de repetir seus sacrifícios. João também começou a ver Ana como uma pessoa única, em vez de uma projeção de sua mãe, o que ajudou a reduzir a intensidade dos conflitos.
Após a constelação, João relatou uma nova perspectiva sobre seu divórcio. Ele começou a entender que seu casamento estava terminando não por falta de esforço ou amor, mas porque ambos, ele e Ana, precisavam seguir caminhos diferentes para encontrar a verdadeira felicidade. Com essa compreensão, João conseguiu lidar melhor com a culpa e a tristeza, aceitando o divórcio como uma oportunidade para crescimento e autodescoberta.
Este caso ilustra como a abordagem sistêmica pode ser eficaz na resolução de questões relacionadas a divórcios e separações, ao revelar e tratar as dinâmicas familiares inconscientes que influenciam nossos relacionamentos. Através da constelação familiar, João conseguiu encontrar clareza e paz em meio ao divórcio, permitindo que ele e Ana seguissem em frente de maneira mais consciente e equilibrada.
No terceiro exemplo eu escolho, por fim, falar sobre a liberação de padrões repetitivos com a cliente Sara. Claro, aqui está um relato terapêutico sistêmico familiar de um caso real em que uma cliente estava em um padrão repetitivo com sua avó materna.
Sara, uma mulher de 28 anos, me procurou devido às dificuldades recorrentes em seus relacionamentos amorosos. Ela relatava que seus relacionamentos sempre terminavam de forma abrupta e dolorosa, muitas vezes com traições e abandonos.
Durante nossas sessões iniciais, Sara mencionou que sua mãe também havia passado por várias relações turbulentas e que sua avó materna tinha sido abandonada pelo marido quando ela ainda era muito jovem. Diante dessa informação, sugeri que fizéssemos uma constelação familiar para explorar possíveis padrões transgeracionais que poderiam estar influenciando a vida amorosa dela.
Na constelação, utilizamos representantes para Sara, a mãe dela e a avó materna. Através das interações e movimentos dos representantes, ficou claro que ela estava inconscientemente repetindo o padrão de abandono que sua avó materna havia vivido. Havia uma forte lealdade sistêmica que a conectava à dor e ao sofrimento da avó.
A constelação revelou que a avó tinha vivido uma grande e triste decepção quando seu marido a abandonou grávida da mãe de Sara, e esse trauma não havia sido totalmente processado. A mãe de Sara, por sua vez, também carregava esse peso, resultando em relacionamentos difíceis e instáveis. Sara então, por lealdade inconsciente, estava perpetuando esse ciclo de dor e abandono.
Ao tomar consciência desse padrão pôde começar a liberar essa lealdade. Trabalhamos juntas para que ela pudesse honrar a história e o sofrimento de sua avó, mas também reconhecer que não precisava repetir o mesmo destino. Sara realizou um ritual simbólico durante a constelação, em que devolveu esse fardo emocional à sua avó, reconhecendo sua força e resiliência. Após a constelação, relatou uma mudança significativa em sua perspectiva sobre os relacionamentos. Ela se sentia mais leve e menos pressionada a repetir o padrão de sua avó. Com o tempo, começou a atrair parceiros mais compatíveis e suas relações se tornaram mais saudáveis e estáveis.
Esse caso demonstra como a inteligência sistêmica por trás da constelação familiar pode ser poderosa na identificação e resolução de padrões transgeracionais. Através dessa técnica Sara conseguiu quebrar o ciclo de abandono que havia afetado sua família por gerações, encontrando um caminho para relacionamentos mais harmoniosos e satisfatórios.
Assim, é possível perceber que os casos reais apresentados ilustram de forma clara e contundente como a constelação familiar pode ser uma ferramenta poderosa e transformadora na jornada de autoconhecimento e qualidade relacional. Através dessa abordagem terapêutica é possível revelar e entender as dinâmicas ocultas que influenciam nossas vidas, muitas vezes de maneira inconsciente e transgeracional.
Ao trabalhar com constelação familiar eu dou aos meus clientes a oportunidade de quebrar padrões de repetição que podem estar limitando o crescimento e o bem-estar de cada pessoa que me procura. Seja um padrão de insônia, dificuldades nos relacionamentos ou problemas como o divórcio, a inteligência sistêmica por trás da constelação familiar permite que esses padrões sejam vistos e compreendidos em um contexto mais amplo e sistêmico.
A redefinição de papéis dentro da família é outro aspecto crucial que a constelação familiar aborda. Ao identificar e liberar lealdades invisíveis e cargas emocionais desnecessárias, os clientes podem assumir seus próprios papéis de maneira mais autêntica e saudável. Isso, por sua vez, promove um maior equilíbrio e harmonia nos sistemas familiares.
Além disso, a constelação familiar oferece uma maneira profunda e respeitosa de lidar com traumas familiares. Ao honrar a história e o sofrimento dos antepassados, e ao mesmo tempo liberar o peso emocional que esses traumas carregam, os clientes podem encontrar uma nova liberdade para viver suas vidas de maneira plena e satisfatória. É uma prática que vai além da simples resolução de problemas imediatos. Ela promove um profundo autoconhecimento, cura de feridas ancestrais e a construção de um novo caminho, livre de padrões limitantes e traumas não resolvidos. É uma abordagem que transforma vidas, trazendo paz, compreensão e renovação para aqueles que embarcam nesta jornada de descoberta e crescimento.
