Há uma impaciência que nossa cultura impõe aos enlutados, e muitas inverdades no que tange a superação do luto. O luto passa a ser visto como algo a ser evitado e não algo que precisa ser vivido. É necessário, no entanto, saber que a “superação do luto” não existe, o luto deve sim ser incluído, o luto deve sim ser elaborado com a ajuda de familiares, amigos e terapeutas especializados nesta vertente, mas nunca mascarado. Isso causa confusão, ansiedade, e até depressão. Se a pessoa enlutada receber pouco ou nenhum reconhecimento social pela sua dor, ela poderá temer que seus sentimentos sejam anormais, o que não é verdade.
Um mundo contemporâneo onde avançamos décadas após décadas em tecnologia, ciência, descobertas e mais descobertas, supõe questões de níveis psicoemocionais, como o luto, ainda como vergonha, fraqueza, falha ou problema, permanecendo um olhar desnaturalizado para a morte, morbidez ou idiossincrasia. Psicoeducar para a morte é mais do que necessário, é salutar para a sociedade como um TODO.
A “superação do luto” é um problema que precisamos desintegrar para dar espaço a esta vivência com mais acolhimento e respeito. O luto é um processo normal e esperado para elaborar qualquer perda significativa em nossas vidas.
A abordagem sistêmica da constelação familiar, neste processo do luto, é uma ferramenta que ajuda a pessoa a incluir e viver emoções de dor, tristeza, angústia, raiva, dentre muitas outras, até a construção de recursos internos para lidar com a morte, assim como poderá obter a percepção de amar alguém mesmo em sua ausência física.
Nesse processo eu posso oferecer suporte para você sentir acolhimento, podemos convidar a família e os amigos para uma rede de apoio e cuidados… Assim, somam-se forças, diminuem-se as inseguranças, e é oferecida, com muito carinho e respeito, a possibilidade de enfrentar a dor, de recuperar a confiança na vida após tantas perdas, de se reconstruir em recursos internos para continuar a viver sem a pessoa amada.
A dor intensa do luto nos faz deixar escapar uma constatação muito importante: aquela pessoa que morreu também nos amou, e quem ama quer continuamente que o outro seja feliz. Então, é como se voltássemos a enxergar o AMOR daquela pessoa que morreu, sentindo novamente no coração o preenchimento e deixando o vazio ir embora, passar.
Cada um com sua história individual, cada um com a sua força e o seu tempo, mas existe a possibilidade de dar novos sentidos para os acontecimentos, há uma possibilidade de aprendizado para o novo, que se torna real a partir da ida de alguém, e é absolutamente restaurador.
Ninguém pode ter controle da chegada da morte, vivemos até que forças maiores nos permitam estar aqui, e quando o luto nos desafia com sua chegada, não precisamos passar por um período tão complexo e difícil sozinhos, às vezes até em silêncio, sem um ombro para apenas chorar.
A constelação familiar pode auxiliar a pessoa enlutada a ressignificar o vínculo com quem morreu, pois o vínculo é contínuo, a pessoa que morreu te constitui e o vínculo não acaba com a morte. Você pode ampliar a sua percepção para encontrar espaço para a pessoa viver em você, apenas de forma diferente. E assim também a constelação familiar traz um alcance muito profundo na alma de quem confronta com a realidade de não ter mais junto fisicamente a pessoa que fazia parte da vida com você.
É muito valioso que sempre tenhamos em mente o fato de o luto não seguir um protocolo. É um território singular, complexo e sagrado, que pertence a cada indivíduo enlutado. Julgar ou se basear pelas suas próprias vivências não valida e nem ajuda a experiência do enlutado na reparação da perda.
Concluo com a citação de Parkes, de 1998: “A dor do luto é tanto parte da vida quanto a alegria de viver; é, talvez, o preço que pagamos pelo amor, o preço do compromisso.”
Excelente artigo, isso é realmente a cura! Estamos cada vez mais ajudando pessoas que passam por isso! Obrigada irmã por ser tão dedicada é maravilhosa!
Conteúdo valiosissimo!