Algumas experiências são inevitáveis na vida, em especial aquelas em que temos que lidar com perdas significativas e com acontecimentos que provocam mudanças importantes que desafiam nosso mundo presumido. O luto aparece como uma resposta natural à perda de alguém ou algo que seja valioso para nós. É um processo que envolve sentir, acolher, lidar com a dor da tristeza, medo, raiva, angústia, ansiedade, dentre vários sentimentos associados às perdas. O apoio em situações de luto é algo notável, o enlutado não deve passar este período sozinho.
Cada luto, seja luto pela tia, luto pelos avós, luto pelo pai ou luto pela mãe, é vivenciado de modo singular, único por cada pessoa. Cada pessoa tem a sua história com aquele ente que morreu. É considerável priorizar os aspectos singulares do luto de forma individual ao invés de enquadrar em esquemas previamente desenhados. Por exemplo: às vezes duas irmãs, pertencentes à mesma família, podem reagir de maneiras diferentes a morte da mãe, o luto pela mãe de cada uma pode ser vivenciado muito diferentemente nas emoções, no tempo de recuperação, no enfrentamento, nos sintomas e nas reações físicas, no comportamento e na reconstrução de suas vidas.
As reações diante de uma perda podem ocorrer de diversas maneiras e não devem ser consideradas como um padrão. Cada pessoa terá um tipo de resposta sustentada por diversas variáveis: desde suas respostas instintivas diante da ameaça e medo mobilizados pela perda, abrangendo suas condições pessoais de história de vida, suporte social, contexto cultural, até as características do relacionamento perdido e das condições da perda.
O enlutado constrói um vínculo com aquela pessoa que morre enquanto ela vive, e quanto maior a parte que aquela pessoa ocupa na vida de quem sofre a perda, quanto maior a significância dessa relação, a força do apego, da segurança, da confiança e do envolvimento, maior pode se tornar a ruptura, maior o abalo, a crise e o conflito a ser vivido para aquele que permanece. As perdas de familiares próximos, como filhos, netos e cônjuges, costumam trazer muito sofrimento, assim também quando uma criança vive o luto da mãe, em sua infância.
Sempre me preocupo em ressaltar a importância de termos em mente o respeito à singularidade de cada enlutado. Nada aqui é predeterminado ou fixo. Muito pelo contrário, quando se fala de vivências de luto, tudo é oscilante, dinâmico, e assim exige um olhar preciso para as nuances particulares de cada indivíduo.
A presença da morte na vida de quem fica traz a experiência que nos faz entrar em contato com o desconhecido, com o novo, e a incerteza que a finitude traz a respeito da vida, provocando muitas vezes alto nível de ansiedade e estresse.
O apoio em situações de luto, dado pelo terapeuta especializado, é de suma importância para que o enlutado consiga enfrentar esta fase com acolhimento, para que haja um espaço seguro para se expressar, sofrer, ou apenas chorar e dar andamento à assimilação da perda para então se adaptar à nova realidade. As condições de instabilidade que acompanham este processo e os impactos psicoemocionais que a pessoa enlutada fica sujeita requer um terapeuta qualificado para oferecer ferramentas ao enlutado, para que ele encontre recursos internos de adaptação, encare e reorganize a sua vida novamente.
Muitos de nossos problemas têm a ver com os mortos e com a maneira como nos mantemos influenciados e ligados a eles no presente. Quando a morte é recente, a dor e o luto são adequados, e ajudam a nos separarmos dos mortos. No período adequado, o luto pode ter mais êxito se o terapeuta, através da constelação familiar, ou da inteligência sistêmica, facilita a percepção do enlutado para que ele consiga realmente agradecer e conservar as coisas boas que viveu e recebeu durante a vida daquele que partiu. Na memória de quem sofreu a perda, aquilo que foi vivido e recebido continua atuando e realizando seu objetivo. Essa é uma forma valiosa de quem fica vivo sentir-se em paz com aquilo que foi, independentemente do que foi ou de como foi, e nos dá força à medida que concordamos com a realidade atual.
Com a abordagem da constelação familiar e da inteligência sistêmica, o terapeuta por vezes consegue levar o cliente a se desenvolver e ampliar sua percepção da nova realidade, através de exercícios de empatia, e com ela trazer a clareza de resolver as dores do enlutado e abrir espaço para a aceitação do novo que se mostra presente.
Este apoio em situações de luto é oferecido como solução para o cliente, de acordo com as condições da pessoa, além da disponibilidade emocional dela ao lidar com a morte e desprender-se da dor e do sofrimento, para que possa estar em paz com os mortos e livres para viver a sua própria vida.
Enfim, neste contexto de restaurar a vida, com novos significados, mediante a morte de familiares e entes queridos, a constelação familiar pode trazer um bom efeito e ajudar o cliente a construir uma inteligência sistêmica que vai ajudá-lo a refazer sua ligação de modo amoroso com os mortos.