Constelação Inteligência Sistêmica

A constelação familiar sistêmica em sua origem

A constelação familiar sistêmica surgiu pelos trabalhos de um importante filósofo alemão chamado Bert Hellinger. Apesar de nascido na Alemanha, jamais compactuou com o regime nazista da época. Aos 16 anos foi convocado como soldado na II Guerra para servir na frente Belga, onde terminou prisioneiro dos americanos por um ano. Conseguiu escapar e ingressou numa ordem missionária católica onde se tornou padre e, mais tarde, dirigiu escolas para pessoas de etnia Zulu, no auge do regime de segregação racial na África do sul.

Ali, naquele ambiente conflituoso do apartheid, participou de diversos encontros ecumênicos para promover um ambiente reconciliatório que tinha por objetivo uma solução pacífica para o separatismo vigente. Hellinger disse que num desses encontros um facilitador chamado Dave fez uma pergunta ao grupo que mudou sua vida: “se você tivesse que escolher entre os seus valores e as pessoas, qual dos dois você abriria mão em relação ao outro?”

Tendo em vista que deveríamos escolher as pessoas, o que ele observou, na prática, foi que as pessoas escolhiam os valores. Ficou consciente do poder dos valores e o quão podem ser perigosos. Suas investigações a respeito deste fenômeno o levaram a perceber o papel das consciências leves e pesadas por detrás dos valores. Viu, então, que as pessoas poderiam fazer coisas terríveis umas com as outras, mesmo de consciência leve, e que estas consciências estavam conectadas a três princípios que denominou de “Leis do Amor””: pertencimento, hierarquia e equilíbrio de trocas (dar e receber).

Ainda naquele ambiente teve importantes percepções sobre as relações familiares dentro desta cultura e o profundo respeito entre pais e filhos.

Mais tarde, Bert deixa a batina e inicia sua longa jornada por vários tipos de terapias de ajuda ao outro: psicanálise (Sigmund Freud), terapia primal (Arthur Janov), análise transgeracional (Eric Berne), hipnoterapia (Milton Ericsson) e psicodrama (J.L. Moreno) são alguns exemplos.

Posteriormente, Hellinger chega a um nível de intervenções terapêuticas extremamente profundas e simples, nas quais revela-se que muitos dos problemas que se apresentam nas famílias derivam de perturbações nestes três princípios básicos e, ainda, que com a ajuda de representações familiares era possível trazer para a consciência os laços de destinos que nos mantêm vinculados a origem a que pertencemos.

De acordo com Jacob Schneider, a função da constelação familiar sistêmica seria tornar visível e compreensível esse entrelaçamento no interior da alma familiar, para que possam surgir novas possibilidades de sentir, pensar, agir e conviver de acordo com a necessidade e intenção do cliente.

A constelação familiar sistêmica não apaga fatos anteriores que aconteceram nos sistemas familiares, mas ajuda a mudar ligações que dificultam e perturbam os relacionamentos, tornando admissíveis reconciliações e curas para a reabertura de um futuro desejado. Cabe a pessoa que está sendo constelada fazer com que a solução substitua a interpretação problemática por outra que faça sentido e seja correta.

A eficácia da constelação se baseia no reconhecimento dos acontecimentos existencialmente importantes à que nos vinculamos em nossos destinos e a forma emocional com que lidamos com essas ocorrências apesar de todos os tabus, as repressões, as negações, as exclusões e as indiferenças. Esse resultado ainda demanda que as pessoas do sistema sejam consideradas e honradas em seu destino, em sua responsabilidade por si próprias, e como parte da história de vida das gerações subsequentes.

A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO SISTÊMICO PARA  A CONSTELAÇÃO

O pensamento sistêmico é o contraposto ao pensamento reducionista-mecanicista herdado dos filósofos da revolução científica do século XVII, como René Descartes e Isaac Newton.

Este pensamento tem grande importância para as constelações porque nos tira do nível apenas material, do ter e vai para o ser, as pessoas, a realidade, e nos ajudam a compreensão da solução no processo como um todo, contextualizado nos fatos e não em partes fragmentadas. O pensamento mecânico funciona muito bem para coisas, mas para seres humanos não funciona, somos dotados de sentimentos, assim como quando estamos sendo observados se altera nosso comportamento, não somos estáticos.

Neste pensamento, somos baseados na cooperação, conseguimos um melhor resultado não focando no culpado e na punição.

Vale observar, nesse contexto, a possibilidade de emaranhamentos em uma constelação:

OS POSSÍVEIS EMARANHAMENTOS DE UMA CONSTELAÇÃO FAMILIAR SISTÊMICA

As possíveis formas de emaranhamentos são:

1 – Triangulação: quando um dos genitores não encontra recursos em si mesmo para lidar com alguns conflitos com seu parceiro, e a partir daí busca apoio do filho contra o cônjuge.

2 – Parentificação: quando a criança continuamente é instigada a desenvolver um senso de responsabilidade que não é dela com seus pais. Os papéis se invertem e o menor fica maior.

3 – Identificação: a pessoa age de forma inconsciente, apresentando características, atributos de outra pessoa. A identificação com pessoas que foram excluídas e/ou banidas do sistema familiar. Acontece como uma forma de compensar e reequilibrar o sistema.

4 – Repetição: o indivíduo repete o destino de um membro do sistema por amor. Geralmente são destinos duros e cheios de dificuldades.

5 – Substituição: acontece diante de uma dinâmica de sofrimento e dor. O membro passa a carregar esses sentimentos no lugar do outro em solidariedade.

Não obstante, existem diferentes nichos de atuação em que a abordagem sistêmica que vão além do sistema familiar em si, como no âmbito jurídico, no mundo corporativo, e nas escolas. O método é utilizado para a mediação, em caráter conciliatório sempre, e você pode ler mais sobre isso aqui: Os nichos de atuação da constelação para além do sistema familiar.

CONCLUSÃO

Dado o contexto, a constelação familiar sistêmica vai ficando cada vez mais aceita e famosa entre os terapeutas que se interessam por aprender este novo tipo de abordagem.

Contudo, podemos concluir que a constelação familiar sistêmica em sua forma básica é saber o que nos vincula, em nosso destino pessoal, ao destino de outras pessoas, e o que pode nos desconectar dessas ligações. Buscar estas conexões que atravessam gerações e atuam de forma “cega”, sem que queiramos ou saibamos, causando problemas individuais e de relacionamentos se justifica na ação liberadora da pessoa e/ou do grupo. Conheça os benefícios da constelação para os relacionamentos clicando aqui.

Desde o início de nossa vida individual no decurso do tempo, desenvolvemos padrões em nosso modo de agir, de pensar e de sentir que não dependem somente de características genéticas, interações e comunicações reais, mas também de um contexto social que cria vínculos, transcendendo o indivíduo, na medida que nos é predeterminado e inevitável ao que chamamos de destino. 

O que consideramos menos admissível é que, no destino, algo nos aconteça como consequência de uma culpa, sem que tenhamos qualquer responsabilidade pessoal. Essa é uma experiência frequente nas constelações. Tais eventos, podem ser indubitavelmente ajustados neste processo por meio de uma visão esclarecedora dos efeitos na vida do cliente e as redes de relações a que ele está envolvido. Pode – se falar que essa psicoterapia olha os processos da alma do cliente em função dos domínios exteriores dele. Ademais, tudo isso só faz sentido se a busca por tais conexões o ajudar, for liberador a ele e ao sistema.

O caminho desta metodologia de Bert Hellinger consiste em uma grande vantagem em sua capacidade de tornar visíveis estruturas nos sistemas de relacionamentos sem que nós as criemos com nossas comunicações e intervenções. Também as Leis do Amor e as Leis da Ajuda podem ser úteis a pessoas em conflitos individuais e de relacionamentos.

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